sexta-feira, 15 de julho de 2011

segunda-feira, 16 de maio de 2011

) A quê você pertence?




Fale com qualquer teórico, professional, palpiteiro ou marketeiro de plantão e em algum momento da conversa ele vai citar a necessidade ou inclinação que temos de pertencer a algo. E que é dessa convicção que as marcas se aproveitam, criando produtos, promoções, seduções diversas para, ao final, oferecer colo a carentes ou a quem quer simplesmente ser "gente como a gente". É desse manual de pertencimento que espalham por aí que devemos nos formar, namorar, casar, ter filhos, ter uma vida bem sucedida e atender convenções sociais que nos afastem de qualquer risco de sermos a qualquer momento um pária da sociedade.
Mas como então explicar uma adesão cada vez maior da sociedade à homossexualidade, a famílias formadas por mulheres mais velhas casadas com homens mais jovens, a executivos abandonando carreiras tradicionais para experimentarem novas possibilidades de realização, a idosos voltando aos bancos das universidades e ativos profissionalmente, a maduros que não se aposentam, a crianças consumindo como adultos, e a jovens viciados em bebidas com cafeína para dar conta desse mundo acelerado? Simples: perdemos o medo das mudanças, estamos mais preparados para as transições, e como defende o teórico Zygmunt Bauman e seus livros “líquidos”, existe na sociedade contemporânea uma liquidez identitária que permite uma flexibilidade de práticas nunca antes vista.
Ou seja, para pertencer nos dias de hoje, basta aceitar sem precisar experimentar. Basta crer sem precisar viver. Basta assumir sem precisar usufruir. Por isso a tentativa das marcas em oferecer uma promessa de pertencimento é discurso vazio e insosso. O que parece culpa dessa “ sociedade a la carte” que o filósofo Gilles Lipovestky vive ilustrando em seus livros sobre hiperconsumo. Uma sociedade que consome mais, mas descarta mais rápido; que exige valores, mas não ampara as mudanças; que quer ter tudo, sem nunca descobrir o que realmente precisa. E assim caminha a humanidade rumo a uma realidade cada vez mais vazia e ironicamente excessiva.


Karina Arruda